domingo, 7 de fevereiro de 2016

A generalização, o funcionalismo público e uma história de meu pai

Com muita frequência escuto comentários e piadas a respeito da incompetência, falta de compromisso e até falta de honestidade de funcionários públicos. Sim, já conheci alguns que eram uns encostados, vagabundos que usufruíam de suas estabilidades para apenas mamar nas tetas estatais.
Convenhamos que no Brasil é muito comum as pessoas generalizarem e associarem todo funcionário público à pilantragem. Mas deixe-me contar uma história de meu pai.

Eu devia ter uns dez ou onze anos, estamos falando de 1987 / 1988. Na época meu pai era Chefe de Seção ou Divisão (não tenho certeza) da Secretaria de Obras da Prefeitura Municipal de Guarulhos. Era comum eu ir para o trabalho com meu pai quando eu tinha consulta no dentista, o consultório do Dr. Jairo era em frente ao prédio da Prefeitura, que ainda existe, localizado à Rua Sete de Setembro com a Rua Felício Marcondes, no centro de Guarulhos.

Fui ao dentista, ao final da consulta, meu pai me pegou no consultório e fui “trabalhar” com meu pai, esperando o fim do expediente.

 Estava brincando de datilografar, quando dois engravatados chegaram perguntando a respeito do projeto de um Hotel nos arredores do Aeroporto de Guarulhos. Havia dois ou três anos que o Aeroporto Internacional de Guarulhos havia sido inaugurado e vários hotéis estavam sendo construídos em suas redondezas.

Meu pai atendeu os engravatados pedindo que se identificassem, pois não eram os arquitetos responsáveis pelo projeto do Hotel. Foi quando um dos homens disse que realmente eles não eram da construtora X (responsável pelo projeto e construção do Hotel), mas que precisavam de detalhes do projeto, ao mesmo tempo que dizia isso, abria uma maleta de mão, onde eu vi maços de dinheiro enrolados em elásticos. No mesmo momento meu pai se levantou e disse “vão embora agora ou vou chamar a segurança”.

Acho que não entendi na hora o que estava acontecendo, mas aquela cena ficou na minha cabeça e meses, talvez anos mais tarde entendi que eram pessoas de uma possível concorrente, tentando comprar informações a respeito do projeto do Hotel, espionagem industrial pura e simples.

Hoje eu não generalizo, e quando escuto comentários como “todo funcionário público é desonesto”, tenho a certeza da injustiça que está sendo cometida.
Existem pilantras em todas as áreas de atuação, mas generalizar é injusto porque atinge as exceções (ou muitas vezes maiorias) inocentes.

Nem todo funcionário público é desonesto.
Nem todo político é corrupto (sim, ainda existem poucos que não se corromperam).
Nem todo pastor é desonesto.
Nem todo policial é corrupto…..
Só pra citar algumas generalizações comuns.

“Toda generalização é perigosa. Inclusive esta.“ 
Alexandre Dumas Filho

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